Tenho tanta saudade de mim...

segunda-feira, agosto 01, 2022

Haikai

Numa tarde trivial, passando ali no finzinho da Paulista (ou no começo), entrei na Casa das Flores. Gosto dali. Uma moça muito simpática me convidou para uma oficina de haikai (haiku, se preferirem). Meu espanto foi o mesmo da maioria de vocês, suponho. Nunca tinha ouvido falar no que raios era esse tal "haikai". Busquei no google pra não assumir a total ignorância e, como envolvia poesia, sentimentos, arte japonesa, topei. Há um rigor no haikai. É pra ser um terceto e há de ser observar três elementos: forma, corte e kigo (termo japonês para a estação do ano). Gostei da simplicidade do verso. É como se fosse um ikebana literário. Saí de lá um especialista em desaprender! Desconstruí e compus meus haikais abrasileirados (mas nem por isso menos líricos), como a seguir:

Haikai da finitude
A gota evapora-se
a medida do calor
e a vida não pode ser fria.
 
Haikai da juventude
Vês?
passou... 
 
Haikai da alegria
Naquele domingo
o sol brilhou sobre o mar
e eu vi.
 
Haikai dos dias longos
O relógio é escravo da felicidade
que o deixa correr
quando a encontra.
 
Haikai dos infortúnios
Ele queria ver estrelas
insistiu num passeio noturno
um tombo o levou aonde queria.
 
Haikai da amizade
Olharam-se por um segundo
e simplesmente
souberam.
 
Haikai para alcançar o Nirvana
A dor lhe causou felicidade,
deu-se conta afinal
de existir.
 
Haikai dos amores vãos
Perdoou-se.
 
Haikai do silêncio
(...) 

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