Tenho tanta saudade de mim...

domingo, maio 13, 2012

relato dum desencarnado


Ditado por alguém, num surto qualquer, num domingo a noite.

Acordei. Eram oito horas da manhã e estava morto. Não que a noite anterior houvesse se passado às claras e que minhas energias não houvessem se recomposto. Estava literalmente fisicamente morto. Corberto de cravos em quase minha inteirice, exceto o rosto, velavam meu corpo na sala. E estava muito branco e frio e penteado e inerte. Nunca me vira assim. Nem quando tinha fugido de mim os amores – ou desamores –  nunca ficara qual estava eu, ali, quieto, no meio da sala, morto. E engraçado que não sofria como dantes! Os outros sim. Talvez sofressem. Ao menos choravam. Eu não. Era leve, transparente, como um sopro, um vento errante. Bem morto. E vi a luz.

terça-feira, maio 01, 2012

inundar-se de amor


Não por medo, meu bem,
deste amor que me desloca
da estiagem de ordinários dias
à maresia de tua boca.

Se é no silêncio que te devoto
minh'existência com versos ridículos,
                             [antigos, remotos...
Não é por frieza a qual me advogas,
nem mesmo por ausências hipócritas.

É que esta paixão, ou amor – não importa,
traz-me vertigem e me agita
qual mar revôlto e um desavisado banhista
que no azul se afoga.

Como ele, desesperado, parte de mim grita,
a outra, impotente,
sufoca.