Tenho tanta saudade de mim...

quarta-feira, outubro 29, 2014

O túmulo de meus avós

Sob sua sombra
jazem nossos mortos:
os seus, murchas pétalas
os meus, humanos corpos.
No jardim de sono eterno,
em sua existência etérea,
desfolha mansa e com cuidado
preservando casulos de nérias,
afinal há vida em tudo!
mesmo esta lápide fria, cinzenta
recebe o abraço sinuoso,
repelido de esquecimento,
da árvore baixa, anciã
com tronco retorcido e cruento,
guardiã das memórias de tantos
dispersas nas flores
levadas no vento.

segunda-feira, outubro 13, 2014

A gota

Existe
pela tensão de superfície
de átomos milhares,
os hidrogênios aos pares
em ligações covalentes
com o ar que respiro.

Repousa num vinco
de folha verde escuro
de meus quintais,
precipita do céu e da face,
insinua-se entre tetos antigos
de casas sob temporais
e do orvalho da manhã também nasce.

No meio de sua imensidão quântica
bailam elétrons e íons:
estas partículas diáfanas
que emprestam seu brilho,
refletindo em si
a inteira paisagem.


quarta-feira, outubro 01, 2014

Às vésperas de teus lábios


Não há Deus nele.
O vazio não o representa.
Está entre o surto e o assombro,
a convulsão de vida real,
um espaço virtual,
instante sem quaisquer alucinações
do futuro e do presente.
É saltar no abismo e não ter
certeza da outra margem.
Fechar os olhos e simplesmente esquecer
de quem se é, das reentrâncias da alma,
da falida estrutura humana.
Dura segundos neste vil cotidiano
e a eternidade galáctica no gesto
de te beijar
a boca.