Tenho tanta saudade de mim...

terça-feira, julho 31, 2007

você me faz sofrer

Você me faz sofrer... Quando me invade com o seu olhar sereno e me despe no momento que seu brilho me ofusca a razão, você me faz sofrer. Não que haja pouca verdade em seu olhar, é que já não consigo estar longe dele. Quando em seus braços me refugio e o calor do seu corpo arde em meu peito, eu calo. É que meus dias fizeram minha mente clara e meu corpo tão pálido e frio que tremo em pensar me afastar de sua chama, então você me faz sofrer. E os segundos cruéis que passam no seu relógio tomam a velocidade supersônica de minha agonia e me roubam de você, levam de mim a possibilidade de um amanhã e mesmo que sempre soubesse que tudo não poderia mais que efêmero ser, ainda assim, você me faz sofrer.

É que ando desacostumado com certos sentimentos, certas sensações. Sinto seu cheiro e imagino parar o tempo. Já sequer consigo descrever a avalanche de emoção que me faz o simples toque de suas mãos, o coração acelera e a mente pára. Sou presa fácil. Tudo que construí de fortaleza pelos tempos infindos de guerra com meu passado explode como um vulcão no instante que sinto seu beijo, o roçar de sua língua, e me traz à tona tudo de mais cálido e vermelho que meu corpo se negava a sentir por séculos. E me faz alto, vivo e pulsátil. Tão dono de mim, tão livre, que sinto como um barco que se entrega à bravura impiedosa das ondas do mar que ao mesmo tempo alimenta e mata, resfria e afoga, e vicia.

E quando arranca de mim o delírio maior, meus músculos rijos, a carne fogo, tudo de nobre perde sentido. Não há razão para nós. E mesmo que os corpos quentes estejam plenos de prazeres mundanos, ainda lá encontro o seu olhar, seu abraço, seu cheiro, seu beijo. E, por fim, você me faz sofrer. E me faz feliz.

domingo, julho 15, 2007

amores e aspirinas

Certo dia, ouvi de ti que ma amava. Acolhi as palavras, não cheio de felicidade ou excitação, mas as guardei com calma, como quem recebe um livro bonito e o põe numa prateleira esperando sua hora de ser saboreado. Assim fiz com o seu amor. O fato é que não costumo acreditar no amor que corre suave pela boca. Amor dá trabalho, amor cansa. Ele só é real depois que sofre todas as iniqüidades do mundo, todas as atrocidades das pessoas, todo o horror dos contratempos. Ele só presta bem velho, bem barbudo e sôfrego, quase morto. Não digo que sejam irreais os sentimentos que geralmente as pessoas nutrem umas pelas outras e que vêm e vão ao sabor dos desejos, eles só não deveriam ser chamados de amor. Este movimento ondulatório carreado de secreções e outras camadas de gestos e intenções nada puros é apenas tesão. E não condeno que as pessoas pautem suas vidas pelo tesão. Ao contrário, antes ter ouvido que me tinha tesão, o mais carnal e lascivo que pudesse existir e não vir a confundir com algo que temo ser tão distante de mim.

Preferir o corpo à alma. Ele sim traz calor e geme e goza. Não inventar o sublime. Alma, amar, ao mar, tudo isso é pra quem tem tempo. Eu não. Melhor uma rapidinha. Neste caso a cronologia é relativa. A transa não está longe do sarro, do namoro e até mesmo do casamento. Todos são rapidinhas. A todos se atribuem a mesma imoralidade crua e a indiferença alheia. Neles o amor não dura além do sexo rijo, das cavidades úmidas e do roçar das pernas. É hedônico e mundano.

Mesmo assim, apesar da grossura de minhas palavras, guardei o seu amor. Ele ainda está lá, quieto e empoeirado. Talvez um dia ele envelheça como um bom vinho. Enquanto isso embriago com o álcool barato. A ressaca, duas aspirinas.