Tenho tanta saudade de mim...

domingo, julho 15, 2007

amores e aspirinas

Certo dia, ouvi de ti que ma amava. Acolhi as palavras, não cheio de felicidade ou excitação, mas as guardei com calma, como quem recebe um livro bonito e o põe numa prateleira esperando sua hora de ser saboreado. Assim fiz com o seu amor. O fato é que não costumo acreditar no amor que corre suave pela boca. Amor dá trabalho, amor cansa. Ele só é real depois que sofre todas as iniqüidades do mundo, todas as atrocidades das pessoas, todo o horror dos contratempos. Ele só presta bem velho, bem barbudo e sôfrego, quase morto. Não digo que sejam irreais os sentimentos que geralmente as pessoas nutrem umas pelas outras e que vêm e vão ao sabor dos desejos, eles só não deveriam ser chamados de amor. Este movimento ondulatório carreado de secreções e outras camadas de gestos e intenções nada puros é apenas tesão. E não condeno que as pessoas pautem suas vidas pelo tesão. Ao contrário, antes ter ouvido que me tinha tesão, o mais carnal e lascivo que pudesse existir e não vir a confundir com algo que temo ser tão distante de mim.

Preferir o corpo à alma. Ele sim traz calor e geme e goza. Não inventar o sublime. Alma, amar, ao mar, tudo isso é pra quem tem tempo. Eu não. Melhor uma rapidinha. Neste caso a cronologia é relativa. A transa não está longe do sarro, do namoro e até mesmo do casamento. Todos são rapidinhas. A todos se atribuem a mesma imoralidade crua e a indiferença alheia. Neles o amor não dura além do sexo rijo, das cavidades úmidas e do roçar das pernas. É hedônico e mundano.

Mesmo assim, apesar da grossura de minhas palavras, guardei o seu amor. Ele ainda está lá, quieto e empoeirado. Talvez um dia ele envelheça como um bom vinho. Enquanto isso embriago com o álcool barato. A ressaca, duas aspirinas.

Um comentário:

Alexs Tcho disse...

como sempre arrancou com simplicidade coisas feroses, belas, selvagens e simplesmente reais....

parabéns meu caro amigo