Tenho tanta saudade de mim...

sexta-feira, novembro 20, 2009

longe

Hoje provei do desespero. Dizem que tem um gosto amargo e seco, discordo, ele só dói. Não tem gosto de nada até mesmo porque ele traz consigo a imensidão do nada. Um hiato de silêncio que grita (e já ouvi dizer que quando o grito supera o poder da palavra é que o homem perdeu a razão). Pois assim estou.

Não é o mesmo sentimentalismo barato, o furor frívole dos amores incertos ou , quem sabe, de todas as incertezas mundanas, não! é diferente, é mais pesado, metastático: um câncer. Como se todas as vísceras se entranhassem umas nas outras e perdessem toda a coordenação orgânica que permite o cumprimento do compasso tênue da vida.

É iminência de morte. Acho que chamam isso de saudade.

domingo, agosto 30, 2009

a grandeza do vazio

Ela não cabia em lugar algum.
Era opaca, bege, sem graça, sem vida
mesmo que sempre estivesse ali
não se punha em qualquer espaço vazio.
Não tinha forma definida,
às vezes grande,
às vezes vil,
às vezes sete
ou mesmo mil,
não se continha sequer
naquele canto escondido, frio.

Sua existência quieta, sutil,
inundava todos os espaços
num segundo fugia tudo que era claro
E minha paz, onde? Sumiu.


Não era questão de escolha
trazia de herança,
muitas almas,
gerações passadas.
Nascida de muitos partos:
os antigos, dolorosos
os atuais, cesáreas.
Abismo humano
 instante insano
a mulher se iguala
brutos animais
bichos no cio
surge das entranhas
a humanidade.

Se me entrego aos seus braços
não sou digno dos brios,
mesmo forte, caudaloso rio
destas águas devo ser fugidio.
Seu nome jamais atrevo
não por medo,
é que se pronuncio seu nome
seu significado insone,
faz meu corpo jovem em senil.

domingo, fevereiro 08, 2009

vai

Para quem é livre e, simplesmente, parte...

Depois de cantar tua liberdade, estou aqui cantando tua despedida. Não por acaso demorei em me expor aqui. É que ando provando muita amargura da vida, tenho tomado o cálice do fel de meus inimigos então cansei e decidi também ficar um pouco egoísta. - Não! Uma trégua ao menos! E sumi. Mas agora que o abismo se abre, dois corpos unidos pelo tempo irremediavelmente se separam pelo espaço. E por isto, somente por isto, estou aqui novamente.

Não tento encontrar palavras certas agora porque elas não prestam e são promíscuas; falam de amores e descrevem a loucura. Elas pouco se importam com quem as usa: elas chegam, fazem a explosão bombástica e depois somem. E eu que sofro aqui, solitário, sem elas. Melhor calar. É que o que sinto não sei dizer assim fácil e mesmo se soubesse, nunca o diria, é só meu, é meu termômetro, afere a intensidade de vida que ainda resta em mim. Por isso sou silêncio.

Mas não devo e nem vou te deixar ir tão fácil assim, mesmo que já tenhas cortado os cabelos e o medo que te prendessem tenha fenecido, ouso te dizer que ainda tens nos olhos o mesmo brilho e a mesma paixão de sempre e por isso, em parte, continuas pertencendo a mim. Ainda que agora seja em definitivo (e creio nisto), que a distancia seja infinda e que demore eu sentir de novo a ternura do teu abraço e o teu amor de irmão, eu permanecerei sempre bem aqui, quieto, parado, e em mim... Talvez um dia, quando o teu desejo de morar a beira da praia, de aprender a surfar e de deitar na areia no final da tarde volte avassaladoramente à tona, eu sairei de mim e estarei em ti. Mas agora não posso. E mesmo morrendo um pouco, hoje tenho coragem de te dizer vai...

sexta-feira, janeiro 02, 2009

crença

Eu acredito em você...
Palavras correm soltas
Esmagam esperanças
Matam
Mas acredito em você...
até o final