Tenho tanta saudade de mim...

terça-feira, março 26, 2019

a boy, one book, the train

The eyes stuck on the letters,
silently loud,
repel him every sentiment,
as the rails
by the train
are devoured.

sábado, março 16, 2019

polu(i)ção duma mente juvenil

Quando mais novo ateavam-me:
Mente poluída!
Apreciava o nu genital
boca boceta cu pau
Dudu Bê-Bê-Cê
a puta cujo nome
primeiro ouvi
numa mesa ao jantar
vovô a farfalhar
explicara seu sobrenome
suas letras que assumem
o orifício de ofício
ao que mais dava o homem.

Dudu, Lulu, as primas
suas sinas
já compostas em telas
(Toulouse-Lautrec o fizera)
por que haveria de ser
que minha letra
não as quisera?
Não!
Venham-me todas
imundícies e glórias
tetas rijas e flácidas
membros viris
e as máximas
orgias funestas
quartos úmidos e escuros
nas ruas que todos se apressam!

Dou-lhe caras, ouso nomes
a mente em ebulição
a real poluição
é a necessária polução
das indigentes
contraditas
vedadas
ideias.

sexta-feira, março 15, 2019

cão-de-rua

Um cão ria à beira do (meu) caminho
Sim
Os cães riem
Marginais, seus animais
indigentes, mais gente
que muitos
de nós
Sós
os caninos à mostra
Uma prece?
Um pedido?
Não
Não só um petisco
Dê-lhe de volta outro sorriso
um afago
ele gosta!
E um cão rirá no (seu) caminho
Sim
não duvide
olhe à volta
eles riem
e (r)existem.

segunda-feira, março 11, 2019

foie gras

rompem-lhe ao meio
gordura macabra
alimentado à força 
seu destino a faca
confinam ou confitam
sua carne
de pato
partam-no primeiro
coxas
            de retalho
assem-no perfeito
laranjas ao lado
tirem antes a víscera
fígado amarelado
              cru cozido assado
              alecrim sal pimenta alho
grita o greenpeace
grita mais o garfo
vem de imediato a infância
e a triste cantiga do pato:
lá vem o pato pa-ta-ti
pato acolá
lá vem o prato
pra comer
                  seu fuagrá.