Tenho tanta saudade de mim...

domingo, outubro 27, 2013

A beleza de meu sertão

Homenagem a meu pai e avô, poetas do sertão.

Pra quê tanto sol?
Tanta luz, tanta secura?
Tanto desassossego, meu Deus!
tanta sepultura:
ossadas de bicho,
roça seca, queimada
nada de milho, só carrapicho,
e a terra rachada!

Pra quê diacho tanta novena?
Tanta reza, tanta jura, oferenda?
Terços nos dedos das comadres
correndo em contas ligeiro
à luz dum fogareiro
com o braseiro vivo que arde
atiçado no vento seco que grita
entre frestas, agita em alarde.

Pra quê tanta macheza?
Tanta valentia, siô,
tanta brabeza?
Tanto homem de coragem
sem rumo ou sorte,
só suor e estiagem!
Perdidos no deserto do mundo
na sede indomada do chão
entre grotas secas e fundas
do riacho só de nome
e de água não.

Este é o meu Nordeste
(terra de sina triste)
que a voz dos antigos persiste:
do forró, a sanfona
do cangaço, ponta de facão.
Eita sertão-sem-dono:
mesmo escondido e agreste
só um cabra-da-peste
aguenta, não esmorece,
nem se amofina ou esquece
que tudo aquilo bate no coração!

Judiada, sofrida e antiga,
esta Mãe-Terra - velha parida,
inda se enfeita em vestido surrado de chita,
revelando seu céu fogo carmim.
Que em meus versos singular beleza insiste,
e resiste,
e de jeito algum ou maneira
se acaba e tem fim.