Tenho tanta saudade de mim...

quinta-feira, julho 31, 2014

Acordar ao teu lado

Não tem forma nem nome
Nasce do acaso
E no acaso some
Tão natural – abrir teus olhos
                                  de sono
Nas impróprias manhãs
Cuja intensa luz
Desvirgina vidraças
Atinge devassa
Tua roupa blue
Nossas faces se colam
E o tesão nos toma
No instante ato
Que tua boca
À minha se assoma.

segunda-feira, julho 28, 2014

Bailarina

Nestes brancos delicados
Pés nus descalços
Beijo com tão grande
Desejo incontido
De ter ora comigo
O roçar das madrugadas
De nossas peles virgens
Do toque recíproco
De nós dois.

Nestes pés opacos
Delicados nus descalços
Com tão grande
Beijo incontido
Salivo o desejo
De unir os corpos
Nossos
Inda ardentes
Vivos sedentos
Sós.

Nestes pés delicados
Que primeiro viram
As minhas mãos
Misturando teu sangue
Tua embriaguez
Hoje me perde a sensatez
Em teu sorriso âmbar
Junto com a pálida tez
Que virgem se fez
Para com minha pele
Ainda casar.

quarta-feira, julho 23, 2014

Notívago

Será veio ou rio
Que desce cristal na face
Será feio ou frio
No meio do nada nasce
Se é falta de sono, crio
O poema que teu corpo abrace

terça-feira, julho 15, 2014

Cantiga das manhãs (despertar)

Por esta janela
O sol já não se insinua ou arde
Me beija o mar por ela
Com sua brisa suave, sem alarde

Por este mesmo vão
Que ora descortina os concretos da cidade
As luzes brotam não do céu, mas do chão
E nesta hora ele me invade

Inda no silêncio da noite
Vem me despertar este canto
Que tampouco é do caos donde habito
Nem da desordem do peito que espanto

É canto alegre da vida
Cantarolando o doce sertão
Vem de longe, vem agreste
no bico que a este som empreste
me assobiando enfático refrão:
Meu filho, desperta já
não há mundo sem ti, não!

domingo, julho 13, 2014

Sou dele

Ele é o meu senhor
De tudo é atento
Não tem pena
E lhe falta pudor
Não encena
Me destreina
Se suspiro,
Vem calar com austero rigor!

Ele é sim o meu senhor
Vem! Me domina
Com olhar felino
me fulmina
Fugir não posso
(e nem quero)
É que na angústia, no desespero
Ele se faz maior.

Oh, meu senhor
Estou inteiramente entregue
Aos seus sabores
Ao seu pendor
Sei que nunca está distante
E às vezes é ágil e fugaz
Outras, manso, isento e atroz
Mas consigo repouso e levanto
E sonho, sonho longe, sonho alto,
Numa terra onde corro livre e veloz.

É ele o meu senhor: o tempo
Invisível e leve como pena,
Implacável qual muralha de pedra
Dura, firme, sem fenda,
É a certeza do infindo existir.
Das transgressões do corpo e da alma
Ele será juiz
E da (tua) espera lenta
Será da vida o elixir.

quarta-feira, julho 09, 2014

quinta-feira, julho 03, 2014

Litania das manhãs

De quem é esta manhã
Que os tímidos raios o céu domina
Em meus sonhos inocentes fascina
E abranda galopante afã?

De quem é este beijo
Que molha meus lábios suave
Suga minha língua selvagem
Penetrando com infindo desejo?

De quem é este olhar
Que me despe num só segundo
Cujo fim é improvável, é profundo
E eleva do chão meu andar?

De quem é esta pele
O macio veludo sequer a imita
E com a minha arrepia e excita
Na ausência a distância compele?

De quem é você, amor
Que outrora fora meu, compraz
Hoje habita outro ser fugaz
E se esconde em solitária dor?

Quem somos nós, enfim
Só resquício dum passado remoto
Ou chama ardente, iminente terremoto
Nos sísmicos dias deste estranho porvir?