Tenho tanta saudade de mim...

quinta-feira, novembro 15, 2018

litania de Mariinha

ela tricota as ruas de pedra
entrelaçando-as com perninhas ligeiras
aos fins de tarde, carrega tristeza,
uma sacola, poucas velas e um terço

passa na vizinha, leva-a consigo
testemunha deste cerzir antigo
de memórias dilaceradas de tempo
emendadas ao horror do esquecimento

lá debulha seu rosário em silêncio
como uma espiga de terra má e avarenta
poucos grãos catados, o alimento
pouca alegria de viver
um lamento

curvada sob lápide fria, ela segue
o ritual da vigília patente
todo dia esta velha se encolhe
à morte do filho, silente.