Sob a lona rasgada
com o brilho do estrelado céu
baila garboso o palhaço
dá cambalhotas, faz escarcéu
gaiato, não tem escrúpulos
nem foi treinado em qualquer curso
é nata sua pilhéria
e é sim o ladrão de mulher!
E chega ele pomposo
il grande circo, senhores!
anuncia no microfone orgulhoso
(com sotaque paraibano)
que o circo genuinamente italiano
chegara naquelas paragens:
engolidor de espadas, palhaços,
malabaristas, o fantástico mágico,
e nossa maior atração!
(grita com mais entusiasmo)
direto da África!
Ele!
O grande leão!
Os moleques corriam aos tropeços
esbaforidos, atrás do carro de som
- tio, dá pra nóis um ingresso!
e as havaianas iam se perdendo pelo chão...
O velho de dentro do carro
(que não era nem bobo, nem nada)
propôs a meia boca à meninada:
- se vocês me trouxer uns gato,
pra matar a fome do leão
eu deixo ver o espetáculo
mas quem espalhar na cidade
essa minha proposta
num entra de jeito nenhum
e inda fica com cara-de-bosta!
Pronto! O desafio fora lançado:
Zé Ricardo, aquele danado, levou logo dois
pra garantir o serviço empenhado.
Leonardo, Alberto e Mundico
riam da cara do Chico
que ainda não capturara seu gato.
Corria em silêncio o campeonato
naquela cidadela de interior,
nem desconfiou seu Nonato
quando passou na sua rua com um saco
o Manel escondendo um gato,
com miado desesperado e abafado,
que era dentro seu bichano, o Tambor.
Ao final do dia, foram cobrar a tarefa
dada pelo dono do circo
mas ficou de fora Joaquim
que apesar do esforço empregado
em roubar o gato da sua tia velha
não dera conta do recado
e ainda pagou o maior mico.
Os outros bem que podiam
ter ficado calados
mas começou logo o Zé
a chamar o outro: - é abestado!
Joaquim franzino e covarde,
diante da maioria,
pôs entre as pernas o rabo
e correu pra casa da tia.
O leão decerto se saciou
com seu banquete felino
só se via no espetáculo
a arquibancada cheia de menino.
O Joaquim injuriado
não deixou nada por menos
e antes de acabar a sessão
deu com a língua nos dentes
e mesmo não tendo visto o leão
foi pra cama com riso contente
já que diferente dos outros
não dormira com o couro quente.