A velha não cabia num poema.
Tão suja, cheia de mazela,
com seus resmungos, gritos de dor
e mais velha.
Sua mama em carne viva, ulcerada
e amarela
consumida pelo tumor - doença imunda
e que nem sabe ela
deixou aquilo crescer em seu corpo como bicho,
sem noção,
quase cadela
explodindo em podridão,asco, horror
necrose fétida;
que perturba minha paciência, meu sono,
sua néscia!
Agora, sem paz
escrevo rude, depressa
e perplexo questiono:
se o poema que componho
cabe tamanho assombro
desta tua doença maléfica?
Ora pois, se é fato e verdade
que a poesia é livre
transita mundos e épocas sempre vívida, sem idade,
revolve as imundícies humanas, suas vísceras e entranhas,
que por razão não absurda, nada mais me estranha.
Já que se poesia não discrimina, nem é ortodoxa, tampouco contida,
por que haveria de ser
que esta pobre velha a sofrer
não tivesse no poema sua ferida?
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