Tenho tanta saudade de mim...

quinta-feira, junho 08, 2006

queria ser poeta...

Para quem é eterno.

Queria ser poeta. Sentir as coisas somente no papel. Fugir de minhas mãos os medos. Um canal somente. Absorveria as bondades (e as maldades) do mundo, sugando pelos meus lábios as ânsias, os desejos e, bem longe do meu coração, levaria todos os sentimentos, puros ou não, verdadeiros ou não, até correrem de meus dedos, tomarem as folhas, os olhos, as pessoas, o mundo. Queria ser passional em meus livros e apenas neles permanecer a paixão, quente, vulcânica. Assim, ao fechar a capa fria, tudo findaria. Seria sempre novo, talvez inatingível, estaria inteiro tal como nasci. Profetizar o amor e nunca de fato amar. Amar por vezes dói. Melhor evitar. Cantaria um amor bonito, simples, ou tentaria fazer do amor uma coisa simples, fato que não procede. Mas seria um papel, então pode. Não queria ser bonito nem feio, queria apenas ser um nome. Não importaria mesmo como eu de fato parecesse. Minhas letras sim, estas eu as queria alvas, claras, firmes, pulsáteis, eu inteiro, nu e puro.

Queria ser poeta. Capaz de abrir os braços, sentir o vento em meu corpo e nesta sensação descrever o paraíso. Liberdade seria pouco. Estar sempre além, acima de tudo, comendo nuvens, beijando o mar, enfrentando a grandeza da escuridão feito vaga-lume. Sensibilizar e nunca ser sensível. Um ator nada autobiográfico. Minha vida de fato não seria tão alegórica e intensa como meu verbo, nem tampouco saberia cantar a alegria com minha tristeza. Poemas, uma máscara bastante conveniente. Um esconderijo bonito. Uma fuga nobre. Seria eu.

Ser rei, construir castelos apesar de minha ruína. Saborear todos os prazeres e nunca perder o rumo, como de fato perco, como de fato perdi. E quando a dor que ora invade o meu peito tomasse vida e rompesse num grito ligeiro, um desatino tiro certeiro estraçalharia o ardor e o desejo. Com sangue afogaria meus restos inteiros. No fim de tudo, porém, quando o mal nefasto morto estivesse, meus olhos brilhariam, não com lágrimas que neste instante me acolhem no aconchego desesperado da solidão. Ao invés disto, seriam lampejos ofuscantes da retina que mira o tempo e na sua infinitude encerra meus versos em poeira que o vento leva, toma espaços, impregna a alma e deixa apenas saudade.

Um comentário:

Anônimo disse...

é assim que se reconhece um poeta... pelos seus filhos... naum digo as letras, as palavras, mas os sentimentos expressos em cada delas e que de uma forma bem pura é passada para aqueles que comem a sua poesia...