Tenho tanta saudade de mim...

segunda-feira, março 12, 2018

A poesia visita uma vila de pescadores

O poema nasce no lamaçal do mangue
No titilar dos bilros da rendeira
Sob as asas d’aves cujos nomes esqueço
Na velha sentada à porta
No fuxico de Maria, sua vizinha
No rosário de preto
Na palavra não dita

Nasce sob sol forte
Suando a fronte ao meio dia
Do pescador de anchovas
E de muitas outras barbatanas
Numa ilha de inexatos olhares
De frutos de cajarana
Nos confins da terra da latitude zero

Surge mais do silêncio
Do além-vir
Do etéreo
A epifania dos loucos
Que teimam seguir

Na verdade mesmo ele sempre existiu
Basta um olhar
Um sentimento humano
Os pelos eriçando ao vento
Uma tarde de domingo
Basta existir
E o poema vive
Dentro de nós.

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