Tenho tanta saudade de mim...

sábado, setembro 27, 2014

S-o-b-r-i-a-m-e-n-t-e

Ela nunca ocorreu.
De vaginas úmidas em labor
sua existência declinou.
É vaga como se sente
e não se toca
e nem se vê.
Mas pesa, pesa muito,
mais que toneladas que o homem
ousasse mensurar.
Segue sempre abstrata.
Imagina-se o que queira dela.
Nela cabe o universo,
cabem as nuvens,
cabe eu inteiro e nu
e cabemos nós em outras eras.
Ela me leva para onde não quero
e na sua mais profunda perversão
é exatamente onde queria estar.
Não se afere o tempo em sua casa
que sequer tem cantos:
as sujeiras ficam expostas na sala
às vistas.
Ela é deus.
É o lamaçal dos homens.
A carnificina das guerras.
São cabeças decapitadas.
São noites cruéis.
Nela a infância brinca e não tem fim.
O ser humano é imortal sob sua pele.
As palavras são incompletas quando a ela se proclama
amor eterno.
Os seios de minha mãe estão lá também
saciando meus medos e minha saudade.
É uma grande vaca de tetas macias,
uma cama imensa onde encontro conforto,
é o vértice do mundo,
alfa e ômega
a Bíblia inteira.
Ela sou eu de pés feridos andando no asfalto
quente do meio dia
clamando por misericórdia.
Ela é a cegueira
e a luz.

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