Tenho tanta saudade de mim...

domingo, maio 21, 2017

dandara morta

o corpo não está inteiro
nem este poeta
os livros de anatomia não nos nasceram
ali separam
os paus e as bocetas
e este caminho do meio?
indivisível e invisível, permeio

o corpo é a sede
e a sede
cede!
sua geni

te esconde no desejo
tua curva, uma vírgula no meio
os peitos ou os seios?
maldita!
que feio!

este corpo que fede
uma fraude
a desgraça do mundo
um bofete no moribundo
só mais uma que cede
à sede de sangue
apanha forte, merece
tá escrito no versículo
dos infortúnios.

felação

na vertigem dos poetas
bocetas de ninfetas
no paraíso dos ascetas
o desejo das punhetas

na vertigem das palavras
os cantos sujos das páginas
marcadas com suas orelhas infectas
em otorragia de ideias

na vertigem deste poeta
a imundície da palavra
a embriaguez do mundo
teu cu em pelo, mudo

na vertigem do universo
em transe, a humanidade
transa humana idade
o gozo coletivo do verso

ah, por que me tomas?
insurjo, pois, nesta noite infame
profana a madona, anda!
esta vertigem de herege

o cheiro nascido dos poros
escorrem pela virilha
esta vertigem, líquidos, suores
saciam tua sede, tua língua.

segunda-feira, maio 08, 2017

sexo, suor, H2O

o grito que sufoco
explode dentro, calado
extravasa noutros poros
em cristais liquefeitos
de hidrogênios e o ar
num menàge a trois
perfeito
vem da face, do peito
de toda a pele em extensão
do que os pulmões restringem
se dilata o coração
em ritmo de galope
à singeleza dum delicado toque
da tua à minha mão.

sexta-feira, maio 05, 2017

trans(a)gressão

sou sim
inteiro, completo
esculpido
o repertório humano
imundo! insano!
gritam
nem inteiro
nem meio, nem fim
homem ou mulher
alfa, ômega, uma drágea de malmequer
repousa tudo aqui
o sexo, o orifício, o suicídio
nem homem, nem mulher
sou enfim

         tatuado o corpo, liberta a alma
         o primeiro, só um meio
         o outro, sem fim
         partida imagem
         dum jesus transfigurado
         não em lenços abençoados
         não!
         em porretes, chutes dos soldados
         da fé
         o céu é o mal do mundo
         cruel, lote comprado: quem quer?

sou meio de mim
a outra metade me arrancam
violentam, estupram, sangram
tapas, cuspes, desaforos
nem homem, nem mulher!
a dualidade chata, humano burro
sou sim
imenso, sou tudo
da estupidez, corro
do binário, surto.