Foi aquela tatuagem. Nas outras
vezes sempre sabíamos que era fase e depois que os ânimos se acalmassem nós nos
teríamos de novo. As outras eram bobagens, tinham um motivo real, orgânico,
fácil de tratar. Esta não.
Nossa vida era uma linha
reta, segura, constante. Púnhamos a velocidade que queríamos sem medo de
capotar. O fato é que neste fluxo, corríamos o risco das estradas confortáveis:
cairmos no sono. Talvez por isso quando um adormecia, o outro tomava um caminho
sinuoso, com perigos iminentes, turbinava-se de adrenalina, pra depois correr a
mil, juntos, na pista segura de ambos, em nossa autoestrada.
O problema agora não eram as
curvas, os abismos e as serras. Deu pane no motor. Perda total? Cadê nosso
reboque?
Antes mesmo de verbalizarmos um
fim, veio ela serpentinada e azul, beijando aquela pele que me pertenceu. Nela eu sim me tatuei com saliva e com amor antes. A saliva decerto evaporara
e o amor ficara ali? Será por isso esta ousadia? Cobrir o que desenhei por anos
com desejo, afeto e aflições? Não era justo, não é justo. Foi aí que entendi
que era definitivo.
Não sigo mais estradas, corro
atalhos fugindo de ti, mas sempre te encontro no final. Sempre. O caminho que
era tão certo, hoje não tem sentido. Perdi o mapa, a direção. Estar só dói.
Literalmente. Humanamente. Visceralmente.
Os braços que envolvo, as bocas
que beijo, as estórias que ouço, tudo fala de ti. Sei bem que no fundo tu quem
é o roteirista e o diretor. Que estás ali, cruel, escondido detrás daquela
janela vigiando esta cena que atuo. Deixando a tua marca. Escrevendo sobre mim
o que sei e o que ainda queria ter sabido de ti. Dirigindo a tragédia de minhas
noites vazias. Invadindo meus sonhos intranquilos. Aniquilando a esperança de
te rever.
Afinal de contas, me fala! Já busquei em
tudo. Google. Pai-de-santo. Maculelês. Salamandras. Padre Quevedo. Deus. Não
consigo entender. Que raio significa esta maldita flor azul de tua perna?
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