Era um arco-íris. Nas tardes com
sol forte ainda patente em raios vívidos penetrantes, no meio de hortênsias,
roseiras e palmeiras, parcamente sombreadas pela caramboleira do quintal, choviam
finas gotas, cristais de luz colorida, que brotavam das suas mãos, formando uma cascata leve e delicada que iluminou toda a minha infância. Fecho os olhos e ainda persistem concretas todas aquelas sensações: o cheiro da terra, o som da água
escorrendo dos jarros para o chão, o amarelo das carambolas que pendiam nos
galhos da velha árvore... E ainda a tenho! Ela de vestido floral, de cheirinho de
vó, com óculos de vó, velhinha, regando seu jardim.
Naquelas tardes quentes, entre
refrescos de groselha e biscoitos de nata, sentia o que só agora reconheço.
Sentir é natural, entender é que demanda tempo, exige distanciamento, perdas ou
até mesmo sofrimento. Agora, apesar da compreensão clara, o que falta em definições, em palavras exatas, explode em sentidos. Sentidos não obscuros nem irregulares, ao
contrário, claros, sólidos e redundantes. Diria até que sóbrios (e nego que
seja por escassez de intensidade! É que não são mais incautos, nem levianos como talvez outrora). O que falta é exclusivamente a precisão da fala, é o que não posso mais fisicamente
demonstrar, como um abraço, é o que sei que só tenho dentro de mim e pronto, e
que ali permanecerá e repousará pela eternidade de meus dias. Saudade é pouco pra
resumir tudo.
O que eu queria mesmo era um
poema – doce ou cruel, mas queria em versos cantar aquela velhinha. Não
consegui... Ela era um poema vivo e arte não se repete.
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