Damos-lhe apenas nomes. A
humanidade tem experimentado os mesmos sentimentos desde toda sua existência: as
mesmas taras, os mesmos medos, as ambições, tragédias, gozos e as mesmas
afecções psíquicas. O que mudou é que os classificamos, categorizamos e
sistematizamos ao longo do tempo. Temos-lhes atribuídos diagnósticos e
terapêuticas. Isto se deve ao fato de atualmente vivenciarmos o melhor
entendimento do homem pelo homem; o que filósofos gregos, grandes pensadores,
renascentistas e demais mentes brilhantes postulavam sobre o funcionamento
orgânico do homem e sua interação com o entorno, agora é de real conhecimento
as suas fórmulas químicas, seus espectros de ação, seus receptores coadjuvantes
e seus desencadeamentos fisicoeletroquímicos, ao que vulgarmente chamamos de
sentir.
Nesta constatação quase primaz,
tem-se a sensação da autossuficiência; que o homem é in totum o senhor de si e que suas interações moleculares são
suficientes para o entendimento da postura humana ante eventos satisfatórios ou
trágicos. Ousa-se ainda afirmar que este conhecimento enfrenta inclusive as
barreiras que limitavam o homem físico da sua existência sobrenatural: é como
se nomina o poder noético da ciência contemporânea.
Infelizmente, o que é inevitável
é o contínuo desassossego do ser, mesmo este sendo possuidor da sabedoria
suprema de si, fazendo persistir a vivência dos mesmos desejos, aflições e
prazeres de outrora. E nesta hermenêutica da construção da consciência humana
(mesmo que esta ocorra quase que inconscientemente), o homem sempre se esbarrará
nos pilares da sua formação, fincados sob a égide do “se”. Como se a existência
e a evolução da vida fossem detentoras da dualidade de escolhas, de dois
caminhos distintos que, em marcos históricos, fosse-se determinado
qual estrada percorrer, culminando no que somos hoje. Ora, ao se analisar o que
nos tornamos, é óbvio e categórico afirmar que há apenas um único caminho!
Somos produtos daquilo que todas as sociedades sonharam e continuam a sonhar,
talvez o tempo (a cronologia em si) fosse distinto segundo as escolhas
tomadas, mas o destino seria um só: a liberdade.
Tentarmos ser livres é o que tem
pautado a nossa existência: livres de pensamentos fundamentalistas, de
imposições sociopolíticas ou mesmo de barreiras impostas por nós próprios. A verdade
é que esta liberdade plena é ainda tão distante qual fora no passado. E é por
isso que agora percorro esta linha tênue que separa a loucura da sanidade
imbuído de um espírito inquieto e desbravador, mesmo com a visão turva e a
mente obnubilada. É que já nasci fadado a deter este desejo que me parece
inatingível e por isso me arrebenta o peito uma dor tão grande e asfixiante
como se fora saudade, como se fora saudade de mim.
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