Tenho tanta saudade de mim...

terça-feira, dezembro 27, 2005

greve: luta ilegítima?

------------------- e depois de mais de cem dias, chegou ao fim mais uma greve dos professores universitários das instituições federais e percebo um certo constrangimento da categoria em assumir que a paralisação não passou de um grande fiasco. O Governo Federal e o Ministério da Educação foram irredutíveis durante todo o processo de negociação que foi levado com mãos de ferro por aqueles que sempre defenderam a luta de classes, a legitimidade sindical e a vanguarda da classe trabalhadora. O projeto de Lei, levado a efeito pelo governo pondo fim às negociações, cumulou um conjunto de medidas que de longe faziam parte das reivindicações daqueles professores, bem como, a isonomia entre as carreiras do ensino fundamental, médio e superior, a paridade entre ativos e inativos, um reajuste salarial de quase vinte por cento, dentre outras mais

----------------- voltando à raiz do problema, o que se percebe é que depois que o partido dos trabalhadores chegou ao poder, houve uma grande segregação desta organização partidária, devido principalmente aos caminhos seguidos pelo governo em relação a política econômica de cunho neoliberal, dantes arduamente combatida pelos mesmos que a põem hoje em prática

--------------- é inegável a frustração da classe sindical e dos militantes de movimentos sociais face as deliberações governamentais pouco voltadas ao desenvolvimento social, educacional e trabalhista e, por isso, levantes meticulosamente articulados com vários movimentos floresceram em momentos semelhantes no país, não se limitando aqui os sindicatos, incluindo-se também a CUT, o MST e vários outros representantes de movimentos sociais e da classe trabalhadora do Brasil

------------ as greves vieram com o intuito de desarticulação e enfraquecimento da base governista, já fragilizada com a identificação da rede de corrupção que havia sido instalada interligando Palácio, Senado e Congresso Nacional, fato que culminou na instalação de comissões parlamentares para investigação e apuração de fatos que, depois de vários meses de discussões, trocas de insultos e falta de decoro entre políticos não vimos resultados claramente evidentes.

----------- não afirmo, porém, que a greve tenha sido ilegítima. Não! Todo movimento em favor da melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, principalmente os da educação, tão marginalizada no processo de desenvolvimento e crescimento econômico do país, é válido. Todavia, chamo aqui a atenção para a falta coerência de atos e de condutas. Alguns dos mesmos professores que levantaram a bandeira da greve das universidades públicas se submetem a condições de trabalho menos favoráveis em instituições de ensino privado e então questiono se o ônus deve ser sempre do bem público?

--------- é pura demagogia daqueles que abrem suas bocas e se dizem defensores da universidade pública e do ensino superior gratuito de qualidade, que montam barricadas e que boicotam aqueles profissionais que tentam cumprir seu calendário de atividades, uma vez que é notório o pouco caso e a falta de afinco de grande parte destes mesmos servidores públicos revoltosos em construir um espaço que possa capacitar de maneira adequada e dinâmica os jovens para o mercado de trabalho

------- depois de quatro greves das universidades públicas nos últimos cinco anos pergunto qual avanço real obteve a classe estudantil, razão principal da existência destas instituições de ensino? Acredito que pouco ou mesmo nenhum. O que vemos é nada mais do que uma luta de interesses meramente políticos partidários que envenenam as organizações sindicais e as fazem perder o senso da luta pelo bem comum daqueles os quais elas se propuseram defender. A partir deste ponto, considero então ilegítimas tais manifestações e muito menos os seus idealizadores

----- medidas radicais não trazem benefícios sólidos cujos frutos possam ser colhidos hoje e durante o longo amanhã, mas provocam a desordem e o desestímulo dos estudantes que ainda acreditam na capacidade formativa que a universidade pública possui. Mesmo assim, os alienados mantêm suas armas em punho, engatilhadas, prontos para explodirem, a qualquer instante, outra desnecessária greve

---enfim

segunda-feira, dezembro 26, 2005

a (des)invenção do natal

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Canção do (Des)exílio

(...)
não permita Deus que eu morra
nesta terra que nasci
que a distância me socorra
e com turbinas me corra
desta que nunca cri
(...)

Nauro Machado
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----------- assisto outro dia na televisão a comemoração dos comerciantes de Belém com o turismo que novamente retomava fôlego naquelas terras da Cisjordânia aterrorizadas pelos conflitos entre Judeus e Palestinos. As festividades natalinas seriam um motivo mais que pertinente para peregrinos fervorosos ou mesmo curiosos abastardos chegarem à cidade onde Cristo nasceu. Pasmo ao ver, na mesma reportagem, um boneco gigante do Papai Noel no meio de uma avenida próxima ao comércio do lugar e busco alguma explicação para a existência, naquela cidade, da figura nórdica tão difundida como estimuladora do comércio inescrupuloso nesta época de final de ano que entorpece as mentes das pessoas e as fazem perder o verdadeiro sentido do natal. Devo, pois, render elogios pela grande sacada de marketing da coca-cola ao criar o velhinho gordo e bonachão com suas vestes de veludo vermelho que conseguiu ter mais destaque que o próprio Deus em sua casa

--------- redireciono, então, minhas reflexões ao nosso nordeste de contrastes em que suas opulentas capitais são até capazes de fazer nevar artificialmente em seus shoppings, contrabandeando uma cultura longe de ser nossa, enquanto sequer água é disponível para algumas pessoas pelos interiores do sertão. E questiono se a “fanfarra natalesca” e seus simbolismos fúteis têm algum significado quando percebemos o estado de miséria no qual várias famílias são submetidas devido a uma política social capenga e a olhares críticos de estudiosos que teimam em insistir que tais discrepâncias sociais são efeitos colaterais de uma organização econômica globalizada e neo-liberal e, portanto, sem solução caso não haja uma reestruturação sócio-política-econômica-cultural que utopicamente levaria um longo tempo a ser efetivada, mesmo que a fome continue matando crianças que tampouco querem saber se tais medidas acadêmicas tem real valor prático e se sua aplicabilidade é plausível

------- precisa-se de medidas emergenciais, agora, já. Enquanto políticos declararem abertamente que trinta milhões de dólares é pouco para desafogar quadros periclitantes de miséria no Estado do Maranhão ou então que morar em casas de pau-a-pique coberta de palha é uma questão meramente cultural e não de ordem político-social, poucos horizontes poderemos almejar. Espero que o cinismo não se torne tão extremado a ponto de daqui a pouco ser dito que em nosso Estado o analfabetismo é costume e que o povo na verdade gosta de ser ignorante! Basta! Chega de desmandos e de uma política partidária venal que sequer se atenta às necessidades prementes do país

----- que o Papai Noel de bigode do Maranhão volte para a sua casa no Pólo Norte ou no mais longínquo fim de mundo que ele possa encontrar e leve consigo suas renas que mais se assemelham a veados catingueiros, seu saco com suas quinquilharias, sua tumba e sua herança suja e podre

--- enfim...

- fim!